segunda-feira, 23 de março de 2009

Concerto - CLARIUÉ II

Achei por bem fazer um pequeno comentário relativo ao concerto do passado dia 16, pelo CLARIUÉ. Este comentário justifica-se pelo facto de este concerto me ter surpreendido em diversos aspectos. Antes de mais devo confessar que, como antigo clarinetista, apraz-me imenso ouvir repertório para este fantástico instrumento. Contudo, apesar do gosto pessoal, irei manter uma posição imparcial no comentário.

Surpreendeu-me pela positiva o facto deste concerto ter sido pensado de uma forma inconvencional. Regra geral, estamos habituados a sentarmo-nos numa sala e ouvirmos os intérpretes tocarem estaticamente. Nada disso. O grupo iniciou o concerto de uma forma dinâmica levando a uma concentração imediata para o que se iria passar. Uma excelente ideia do professor Etienne Lamaison e intérpretes.

De todo o concerto a parte menos interessante foi o Fantasiestucke de Robert Schumann. Este desinteresse notou-se pelo afastamento cronológico do que o rodeou (música do século XX). Schumann e Poulenc têem pouco ou nada em comum. Poulenc, pelo contrário foi bastante “expressivo” e realmente fez-me olhar de uma nova perspectiva para a sua Sonata para clarinete. O Quinteto para clarinete de Mozart trouxe um ambiente completamente novo. As peças de grupo surpreenderam pela atitude. Uma atitude em certa forma vanguardista e que se espera ter continuidade. Esta última parte teve alguns risos por parte do público. Não há mal nenhum em rir mas, como público supostamente informado, deveria haver mais um entender e percepcionar do material de uma forma menos primitiva. Afinal estamos ou não a falar de arte? São sempre momentos algo complicados tanto para público como para intérprete.

Tenho também algo a dizer em relação à performance. A performance é aqui entendida como o impacto que a execução da (s) obra (s) tem no público e não se o intérprete errou em alguma parte específica. Quem se detém somente pelos erros, é um público primitivo e básico que nem deveria ouvir nem ter qualquer contacto com a música enquanto arte. A performance do grupo individual e colectivamente foi, de longe, a que se esperava de um intérprete de música. O músico é ou não um actor? Em certa forma é um actor mas, primeiramente, músico. Como tal, o seu objectivo é apresentar o texto musical. O texto musical foi apresentado de uma forma dramática, daí lhe ter chamado musica per drama num outro post. Musica per drama opõe-se a drama per musica no sentido em que a música precede o drama. É este o caso no concerto do CLARIUÉ, em que houve uma coreografia musical que me pareceu maioritariamente com algum sentido. O extra-musical é contudo muito complexo e pluralista, podendo existir as mais diversas interpretações.

Luís C. F. Henriques
Beja, 22 de Março de 2008

1 comentário:

Rubi Girão disse...

De todos os concertos que vi naquele auditório (e já não vão sendo poucos) este foi aquele em que me senti mais integrada, quase em família. Talvez porque a minha área esteja realmente relacionada com a performance, com o uso do corpo e não de um instrumento. Tantas vezes um actor não tem onde se agarrar se não a si. Ali senti um pouco daquela vertigem, a vertigem do teatro que um actor sente quando realmente está no precipício do palco mas também, por afinidade, quando se encontra na plateia a assistir ao trabalho dos outros.

Além disto, o riso como demonstração do que se passa na alma será sempre positivo. Nunca esquecer que o mais primitivo é talvez o mais sincero. Instruído ou não, o público deste concerto interpreta o que há no ar e, sendo boa onda como me pareceu, o riso é a percepção do que se passa no espaço, a junção ao concerto.
Pelo menos comigo foi assim, se entretanto houve riso com outro sentido naquele espaço naquele dia, passou-me ao lado.

Foi bonito.

Fascinou-me.

Faz-me ver cada vez mais a proximidade dos dois campos tantas vezes separados do Teatro e da Música.

Cumprimentos*